Iniciei
a leitura deste livro de forma despretensiosa, como quem foge do tédio, como
quem busca uma companhia para o fim de semana. Na verdade, fiquei indecisa diante de uma estante de opções. Olhei,
folheei, dispensei alguns livros, pensei em escolher outros. Na dúvida entre este
e um outro que não me cabe mencioná-lo aqui, decidi ler os primeiros capítulos
de cada um deles. Na verdade, comecei pela apresentação de “Um gosto e Seis
Vinténs” e a partir daí só descansei depois que conclui sua leitura, uma semana
depois. Agora, enquanto escrevo, tomo consciência de que ainda não “descansei”
por completo. Há uma inquietação nesta obra que, inevitavelmente, fica conosco.
Não se trata de uma biografia,
mas o livro traz elementos da vida do pintor pós impressionista Paul Gauguin.
Assim como Paul, Charles Strikland a princípio é apenas um corretor da bolsa de
valores, e, também como aquele, abandona
a família para se dedicar única e exclusivamente à arte. O livro levanta
questões como a dificuldade do reconhecimento de um gênio por seus
contemporâneos e a busca incessante do verdadeiro artista pela beleza. Fica claro no livro que o que de mais
importante existia na vida do pintor Strikland era a própria arte. A primeira
parte é narrada por um escritor, cujas memórias trazem episódios de sua
convivência com o pintor. Desde o dia em que se conhecem, num jantar oferecido
pela esposa do Strikland até o convívio
como “amigos” posteriormente em Paris. Neste ínterim há os conflitos gerados na
família de Storve, personagem que surge como o único contemporâneo com
sensibilidade capaz de reconhecer a grandiosidade da arte produzida pelo gênio
Strikland. O reconhecimento e acolhimento que Storve oferece a Strickland
culminam com a morte trágica de sua
esposa. Morre. Mata-se de amor pelo estranho artista. Num segundo momento, o escritor recorre às memórias de outras pessoas que
conviveram com Strickland quando ele decidir casar-se e viver numa ilha nativa
com sua companheira. Ao término de tudo, depois de anos isolado e sendo
destruído pela doença que lhe consumia, é fascinante a cena final do livro, o
êxtase e a realização de um gênio diante da grandiosidade de sua própria
criação.
Livro: Um Gosto e Seis Vinténs
Autor: William Somerset Maugham
Ano: 1919